segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Aula: diálogos entre conto e música


OBJETIVOS ESPECÍFICOS
·         Identificar o gênero conto.
·         Compreender e interpretar o texto e a música trabalhados.
·         Comparar as duas formas de abandono/distanciamento as quais o texto e a música referem-se para dar-se conta de que o valor individual das pessoas está cada vez menor em meio à multidão.

CRONOGRAMA DOS TRABALHOS
1. Apresentação da música Maior Abandonado, de Cazuza e Frejat (5 min.)
2. Compreensão e interpretação da música de forma oral, tentando levantar assuntos que se relacionem com o tema do abandono/distanciamento entre pessoas, tratado no conto que virá a seguir. (20 min.)
3. Apresentação do conto Grande Edgar, assim como de seu autor, Luis Fernando Veríssimo (5 min.)
4. Leitura silenciosa do conto (10 min.)
5. Leitura expressiva do conto pelo professor (5 min.)
6. Compreensão e interpretação do conto de forma oral, destacando temas como “como nos distanciamos de pessoas importantes ao longo da vida”, “como nos tornamos 'apenas mais um' aos olhos da sociedade”, “como nós mesmos não nos damos a devida importância”, etc. (25 min.)
7. Análise do conto conforme as estruturas características do gênero (apresentação, Modelo de complicação, clímax, desfecho) (15 min.)
8. Escrita de um pequeno texto que responda a pergunta “Quem é o “maior abandonado do título da música?” (15 min.)

CONTEÚDOS
·         Leitura, análise e interpretação do conto Grande Edgar, de Luis Fernando Veríssimo.
·         Leitura, análise e interpretação da música Maior Abandonado, de Cazuza e Frejat.
·         Gênero conto.
·         Gênero letra de música.


Música Maior Abandonado, composta por Cazuza e Frejat
Eu tô perdido
Sem pai nem mãe
Bem na porta da tua casa
Eu tô pedindo
A tua mão
E um pouquinho do braço
Migalhas dormidas do teu pão
Raspas e restos
Me interessam
Pequenas porções de ilusão
Mentiras sinceras me interessam
Me interessam, me interessam
Eu tô pedindo
A tua mão
Me leve para qualquer lado
Só um pouquinho
De proteção
Ao maior abandonado
Teu corpo com amor ou não
Raspas e restos me interessam
Me ame como a um irmão
Mentiras sinceras me interessam
Me interessam
Migalhas dormidas do teu pão
Raspas e restos
Me interessam
Pequenas porções de ilusão
Mentiras sinceras me interessam
Me interessam, me interessam
Eu tô pedindo
A tua mão
Me leve para qualquer lado
Só um pouquinho
De proteção
Ao maior abandonado

Conto Grande Edgar, de Luis Fernando Veríssimo
Já deve ter acontecido com você.
- Não está se lembrando de mim?
Você não está se lembrando dele. Procura, freneticamente, em todas as fichas armazenadas na memória o rosto dele e o nome correspondente, e não encontra. E não há tempo para procurar no arquivo desativado. Ele está ali, na sua frente, sorrindo, os olhos iluminados, antecipando a sua resposta. Lembra ou não lembra? Neste ponto, você tem uma escolha. Há três caminhos a seguir. Um, o curto, grosso e sincero.
- Não.
Você não está se lembrando dele e não tem por que esconder isso. O "Não" seco pode até insinuar uma reprimenda à pergunta. Não se faz uma pergunta assim, potencialmente embaraçosa, a ninguém, meu caro. Pelo menos não entre pessoas educadas. Você devia ter vergonha. Não me lembro de você e mesmo que lembrasse não diria. Passe bem.
Outro caminho, menos honesto mas igualmente razoável, é o da dissimulação.
- Não me diga. Você é o... o...
"Não me diga", no caso, quer dizer "Me diga, me diga". Você conta com a piedade dele e sabe que cedo ou tarde ele se identificará, para acabar com a sua agonia. Ou você pode dizer algo como:
- Desculpe deve ser a velhice, mas...
Este também é um apelo à piedade. Significa "Não torture um pobre desmemoriado, diga logo quem você é!" É uma maneira simpática de dizer que você não tem a menor idéia de quem ele é, mas que isso não se deve à insignificância dele e sim a uma deficiência de neurônios sua.
E há o terceiro caminho. O menos racional e recomendável. O que leva à tragédia e à ruína. E o que, naturalmente, você escolhe.
- Claro que estou me lembrando de você!
Você não quer magoá-lo, é isso. Há provas estatísticas que o desejo de não magoar os outros está na origem da maioria dos desastres sociais, mas você não quer que ele pense que passou pela sua vida sem deixar um vestígio sequer. E, mesmo, depois de dizer a frase não há como recuar. Você pulou no abismo. Seja o que Deus quiser. Você ainda arremata:
- Há quanto tempo!
Agora tudo dependerá da reação dele. Se for um calhorda, ele o desafiará.
- Então me diga quem eu sou.
Neste caso você não tem outra saída senão simular um ataque cardíaco e esperar, falsamente desacordado, que a ambulância venha salvá-lo. Mas ele pode ser misericordioso e dizer apenas:
- Pois é.
Ou:
- Bota tempo nisso. Você ganhou tempo para pesquisar melhor a memória. Quem é esse cara, meu Deus?
Enquanto resgata caixotes com fichas antigas do meio da poeira e das teias de aranha do fundo do cérebro, o mantém à distância com frases neutras como "jabs" verbais.
- Como cê tem passado?
- Bem, bem.
- Parece mentira.
- Puxa.
(Um colega da escola. Do serviço militar. Será um parente? Quem é esse cara, meu Deus?)
Ele está falando:
- Pensei que você não fosse me reconhecer...
- O que é isso?!
- Não, porque a gente às vezes se decepciona com as pessoas.
- E eu ia esquecer você? Logo você?
- As pessoas mudam. Sei lá.
- Que idéia!
 (É o Ademar! Não, o Ademar já morreu. Você foi ao enterro dele. O... o... como era o nome dele? Tinha uma perna mecânica. Rezende! Mas como saber se ele tem uma perna mecânica? Você pode chutá-lo, amigavelmente. E se chutar a perna boa? Chuta as duas. "Que bom encontrar você!" e paf, chuta uma perna. "Que saudade!" e paf, chuta a outra. Quem é esse cara?)
- É incrível como a gente perde contato.
- É mesmo.
Uma tentativa. É um lance arriscado, mas nesses momentos deve-se ser audacioso.
- Cê tem visto alguém da velha turma?
- Só o Pontes.
- Velho Pontes!
(Pontes. Você conhece algum Pontes? Pelo menos agora tem um nome com o qual trabalhar.
Uma segunda ficha para localizar no sótão. Pontes, Pontes...)
- Lembra do Croarê?
- Claro!
- Esse eu também encontro, às vezes, no tiro ao alvo.
- Velho Croarê!
(Croarê. Tiro ao alvo. Você não conhece nenhum Croarê e nunca fez tiro ao alvo. É inútil. As pistas não estão ajudando. Você decide esquecer toda a cautela e partir para um lance decisivo. Um lance de desespero. O último, antes de apelar para o enfarte.)
- Rezende...
- Quem?
Não é ele. Pelo menos isso está esclarecido.
- Não tinha um Rezende na turma?
- Não me lembro.
- Devo estar confundindo.
Silêncio. Você sente que está prestes a ser desmascarado.
- Sabe que a Ritinha casou?
- Não!
- Casou.
- Com quem?
- Acho que você não conheceu. O Bituca.
Você abandonou todos os escrúpulos. Ao diabo com a cautela. Já que o vexame é inevitável, que ele seja total, arrasador. Você está tomado por uma espécie de euforia terminal. De delírio do abismo. Como que não conhece o Bituca?
- Claro que conheci! Velho Bituca...
- Pois casaram...
É a sua chance. É a saída. Você passa ao ataque.
- E não me avisaram nada?!
- Bem...
- Não. Espera um pouquinho. Todas essas coisas acontecendo, a Ritinha casando com o Bituca, o Croarê dando tiro, e ninguém me avisa nada?!
- É que a gente perdeu contato e...
- Mas o meu nome está na lista, meu querido. Era só dar um telefonema. Mandar um convite.
- É...
- E você ainda achava que eu não ia reconhecer você. Vocês é que esqueceram de mim!
- Desculpe, Edgar. É que...
- Não desculpo não. Você tem razão. As pessoas mudam...
(Edgar. Ele chamou você de Edgar. Você não se chama Edgar. Ele confundiu você com outro. Ele também não tem a mínima idéia de quem você é. O melhor é acabar logo com isso. Aproveitar que ele está na defensiva. Olhar o relógio e fazer cara de "Já?!")
- Tenho que ir. Olha, foi bom ver você, viu?
- Certo, Edgar. E desculpe, hein?
- O que é isso? Precisamos nos ver mais seguido.
- Isso.
- Reunir a velha turma.
- Certo.
- E olha, quando falar com a Ritinha e o Mutuca...
- Bituca.
- E o Bituca, diz que eu mandei um beijo. Tchau, hein?
- Tchau, Edgar!
Ao se afastar, você ainda ouve, satisfeito, ele dizer "Grande Edgar". Mas jura que é a última vez que fará isso. Na próxima vez que alguém lhe perguntar "Você está me reconhecendo?" não dirá nem não. Sairá correndo

Resumo teórico sobre o gênero conto
Angélica Soares (1997) aponta um modelo mais comum e simples de conto que é
constituído por quatro fases:
·         Apresentação: é apresentado um determinado estado de coisas, que pode ser considerado equilibrado, estável, na medida em que a sequência da história vai introduzir uma complicação;
·         Complicação: o estado inicial das coisas é perturbado por alguma força, criando uma tensão, um desequilíbrio;
·         Clímax: é o momento da narrativa em que a ação alcança seu ponto crítico, o qual leva ao desfecho;
·         Desfecho: é reestabelecido o equilíbrio, já que as tensões anteriores foram resolvidas.
10 características do conto
1. é um gênero literário de conteúdo narrativo de curta duração e de um episódio único;
2. constitui-se em uma amostragem, um flagrante, um instante;
3. apresenta um número limitado de personagens;
4. dá ênfase apenas no essencial;
5. há a presença do diálogo;
6. preza pela concisão, concretude e objetividade;
7. o início é importante para o desfecho; o epílogo acontece de modo inesperado;
8. é narrado na terceira, na primeira e/ou segunda pessoa;
9. seu tempo e espaço são limitados, e, geralmente, transcorre num lugar restrito;
10. o modelo comum constitui-se das partes: apresentação, complicação, clímax e desfecho.
Contistas brasileiros famosos
Machado de Assis, Graciliano Ramos, Bernardo Guimarães, Autran Dourado, Monteiro
Lobato, Rubem Fonseca, Clarice Lispector, Luis Fernando Veríssimo, Moacyr Scliar e outros.
Contistas estrangeiros famosos
Ernest Hemingway, Franz Kafka, Guy de Maupassant, James Joyce, Edgar Allan Poe, Tchecov e outros.

OPERACIONALIZAÇÃO
Etapa 1
Composta pela apresentação da música e por sua compreensão e interpretação. Algumas questões orais deverão guiar a discussão, tais como:
·         O que é um “maior abandonado”, citado no título da música?
·         Por que a música diz que “raspas e restos me interessam” (linhas 8 e 9), “mentiras sinceras me interessam” (linha 11)?
·         O que são “mentiras sinceras”?
·         Quem é o “tu” ao qual a música se refere?
·         A que se refere a passagem “pequenas porções de ilusão” (linha 10)?
·         Que tipo de proteção o “maior abandonado” deseja?
Etapa 2
Apresentação do conto Grande Edgar, do livro de onde ele foi retirado, As mentiras que os homens contam, e do autor Luis Fernando Veríssimo. A obra pode passar de aluno em aluno para que seja manuseada e vista mais de perto. Caso houver exemplares na biblioteca, é importante que isso seja informado aos alunos.
Após é feita a leitura silenciosa pelos alunos e em seguida a leitura expressiva pelo professor. A compreensão e interpretação é feita de forma oral, guiada por questões como:
·         Já lhe aconteceu situações parecidas com a do conto? De que forma, você esqueceu de alguém, ou alguém esqueceu quem você era?
·         Por que nos esquecemos tão facilmente dos outros?
·         Por que confundimos estranhos com pessoas conhecidas?
·         Por que o personagem “naturalmente” escolhe o caminho “menos racional e recomendável, que leva à tragédia e à ruína”?
·         Será que nós ou as outras pessoas são tão pouco importantes a ponto de sermos esquecidos? Será que nós nos damos a devida importância?
Terminada a discussão, é feita a entrega de um resumo teórico sobre o gênero conto, com um pouco sobre sua história, principais autores e características estruturais. O professor faz, junto com a turma, a análise do conto Grande Edgar conforme aquelas características (apresentação, complicação, clímax, desfecho).
Etapa 3
Feita a análise do gênero, faz-se a avaliação, que consiste na elaboração de um pequeno texto que responda questões como “Quem é o “maior abandonado do título da música?”, “Você conhece maiores abandonados como aquele do qual a música fala?”, “O que fazer para não virarmos maiores abandonados?”

RECURSOS
Aparelho de som

AVALIAÇÃO
Será feita a partir do texto elaborado em aula, cujo tema permite que seja observado o entendimento do aluno perante os conteúdos apresentados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAZUZA e FREJAT. Maior abandonado. Disponível em: <http://letras.terra.com.br/cazuza/919100/>. Acesso em: 22 abr. 2009.
GIARDELLI, Mempo. Assim se escreve um conto. Trad. De Charles Kiefer. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1994.
JÚNIOR, R. Magalhães. A arte do conto: sua história, seus gêneros, sua técnica, seus mestres. Rio de Janeiro: Edições Bloch, 1972.
SOARES, Angélica. Gêneros literários. São Paulo: Ática, 1997.
VERÍSSIMO, Luis Fernando. Grande Egar. In:__ As mentiras que os homens contam. São Paulo: Objetiva, 2000.

Aula sobre Semana de Arte Moderna

Objetivos

1) Conhecer e vivenciar aspectos literários, históricos, artísticos e culturais da Semana de Arte Moderna de 1922;
2) Apresentar uma versão multimídia da Semana de Arte Moderna;
3) O objetivo desse projeto não é a reprodução fiel dos acontecimentos da Semana de Arte Moderna, mas uma recriação do espírito do movimento modernista, em sua diversidade e suas contradições;

Ponto de partida

Leitura do texto Semana de Arte Moderna. Essa leitura pode ser complementada pelos textos indicados no site Educação: Almanaque da Folha, Centro de Documentação Histórica da FGV e Revista Nova Escola.

Comentário

A Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo no ano de 1922, representou um marco no movimento modernista, mas não foi um acontecimento único nem isolado. O movimento modernista começou antes de 1922 e se prolongou pelas décadas seguintes. Caracterizou-se por um grande debate de idéias e de concepções estéticas, que marcou todos os aspectos da cultura brasileira, em especial a literatura, a arte e a música.

Estratégias

1) Por meio de aulas expositivas e pesquisas extraclasse, em sites da internet e nos livros didáticos e paradidáticos, estudar o modernismo e a Semana de Arte Moderna de 1922, buscando compreender seu significado, sua importância histórica e os acontecimentos mais relevantes do movimento;
2) Com os alunos divididos em grupos, discutir alguns aspectos relevantes do modernismo, definidos pelos próprios grupos, esboçando campos de interesse;
3) Definir os autores e textos que farão parte da dramatização. Por exemplo, podem ser escolhidos os textos "Ode ao Burguês", de Mário de Andrade, o "Manifesto Antropofágico", de Oswald de Andrade, o poema "Os Sapos", de Manuel Bandeira, ou o artigo "Paranóia ou Mistificação", de Monteiro Lobato;
4) De posse desse material, definir os alunos que participarão da dramatização e as características físicas e psicológicas dos personagens que vão interpretar;
5) Estudar as personagens que farão parte da dramatização. As biografias podem ser pesquisadas nos textos indicados pelo site Educação: Mario de Andrade, Anita Malfatti, Manuel Bandeira, Villa-Lobos, Di Cavalcanti, Graça Aranha, Menotti Del Picchia e Tarsila do Amaral.
6) Realização do evento, com exposição, declamação de poemas, apresentação musical, diálogos e esquetes teatrais previamente elaborados ou improvisados pelos alunos.

Produto final

O produto final será um evento multimídia que pode contar com performances, apresentações, esquetes teatrais e exposições.

Aula sobre poemas visuais de Apollinaire e poesia concreta

Objetivos

1. Abordar a poesia concreta brasileira a partir da poesia visual de Apollinaire, propondo um conjunto de estudos interculturais.
2. Mostrar aos alunos uma proposta de trabalho apoiada no diálogo interdisciplinar.

Ponto de partida

Este é um trabalho previsto para ser realizado junto à disciplina de literatura brasileira, levando em conta aspectos de interdisciplinaridade ao promover trocas com áreas do conhecimento, tais como artes, história e língua portuguesa.
Para tanto, o professor pode procurar seus colegas responsáveis pelas referidas disciplinas e propor uma abordagem em conjunto - exercício que poderá fazer parte, por exemplo, de um projeto organizado para uma semana de estudos interculturais na escola, envolvendo diferentes turmas de uma mesma série. Podem ser oferecidos microcursos sobre história da arte, ateliês de criação literária e pictórica, contextualizando-os em um período histórico (início do século 20, até a década de 1950 no Brasil). Exposições de trabalhos dos alunos podem também compor a proposta.
Um trabalho assim promove não só a interação entre professores, mas motiva os alunos a perceberem a relação que pode haver entre as diversas áreas do conhecimento.

Estratégias

Aula 1
Antes de apresentar aos alunos a poesia concreta, pergunte a eles o que entendem por poesia visual ou poesia imagética.
Apontadas as primeiras impressões, mostre ao grupo um caligrama de Apollinaire - o que pode ser feito utilizando-se um equipamento multimídia, um retroprojetor ou um grande cartaz. Caso o professor não disponha da obra, uma edição do livro Caligramas (1918) talvez possa ser encontrada na biblioteca da escola ou numa biblioteca municipal (mas há exemplos no texto linkado acima).
Depois de apresentar os caligramas, pergunte aos alunos o que eles vêem, o que imaginam (se os poemas não estiverem traduzidos), se já conheciam esse tipo de expressão textual.
Convide o grupo a conhecer um pouco sobre Guillaume Apollinaire, levando-o a observar o momento histórico em que o autor viveu - Primeira Guerra Mundial, urbanização e industrialização na Europa - e suas relações com outros artistas, contemporâneos seus. Procure estabelecer uma ponte com o mesmo momento histórico no Brasil - a chegada dos imigrantes europeus, as razões que os motivaram a vir para o Brasil, como a Primeira Guerra repercutiu aqui, que escritores e movimentos literários apareciam no panorama nacional nesse período, a belle époque.
Observação: para explorar o período, uma interessante sugestão de leitura é a obra O sorriso da sociedade (Editora Objetiva), de Anna Lee: um belo passeio pelo início do século 20 no Brasil, abordando suas transformações e os conflitos no ambiente literário carioca.
Realizada essa contextualização histórica e geográfica, solicite aos alunos que façam uma pesquisa sobre o que significa a palavra "caligrama" e suas principais características no contexto de produção na obra de Apollinaire. (Oriente os alunos a pesquisarem em fontes confiáveis, tais como sites educativos ou obras disponíveis em bibliotecas.)
Aula 2
Retome com os alunos o que foi descoberto sobre o significado de "caligrama" e como isso se insere na obra de Apollinaire. Discuta os resultados das pesquisas e utilize-os para apresentar alguns poemas concretos brasileiros, estimulando os alunos a comentar sobre tais produções. O que eles percebem de similar e de diferente entre esses poemas e os de Apollinaire? O que compreendem de suas estruturas, do vocabulário, etc.?
Em seguida, apresente o movimento concretista no Brasil: o que foi, quais seus principais representantes? Por que se consagrou apenas nos anos 50, marcando uma longa distância em relação aos seus precursores franceses? Apresente o panorama político e social brasileiro: pós-Segunda Guerra Mundial, desenvolvimentismo, novas inspirações artístico-literárias (mais referenciadas na cultura norte-americana), industrialização e crescente urbanização.
Aula 3
Nesta aula, o professor apresenta aos alunos os critérios de realização de atividades para um ateliê de produção literária e a respectiva exposição dos trabalhos. A idéia é que os alunos produzam seus próprios poemas concretos. Para incentivá-los, mostre que a poesia concreta é produzida até hoje - por exemplo, os trabalhos de Arnaldo Antunes - e que a cibertecnologia oferece alguns exemplos interessantes de interação com esse tipo de poesia. Outra possibilidade é mostrar vídeos disponíveis na web, como: "Cinco Poemas Concretos", "Exposição Poesia Concreta por Multiplicidade", "Greve" (de Augusto de Campos), dentre outros.

Aula sobre "As formigas", de Lygia F. Telles

Ponto de partida

Leitura do conto "As Formigas", de Lygia Fagundes Telles. O conto pode ser encontrado em "Meus contos preferidos", antologia selecionada pela própria autora para a Editora Rocco (2004). O conto faz parte originalmente da obra "Seminário dos Ratos" e foi publicado em diversas outras antologias.

Objetivos

1) Reconhecer o papel do diálogo dentro de um texto narrativo.
2) Analisar a construção do diálogo em Lygia Fagundes Telles.

Comentário

Um dos contos mais lidos e apreciados de Lygia Fagundes Telles, "As Formigas" coloca o leitor num universo insólito, misterioso e apavorante. O jovem leitor é levado a participar progressivamente do clima de terror e suspense criado pela autora. Duas personagens principais participam da história: a narradora, estudante de direito, e sua prima, estudante de medicina.
A leitura e a observação atenta das falas dessas personagens podem ser de grande valia para desenvolver a capacidade de análise e interpretação do texto.

Estratégias

1) Realizar uma leitura individual do conto "As Formigas", com a seleção de alguns diálogos para análise.
2) Realizar uma leitura dramatizada do conto, com atenção aos diálogos.
3) Caracterizar fisicamente as personagens, por meio de figurinos e adereços característicos.

Atividades

É possível dirigir a compreensão do texto por meio de questões que enfatizem a relação entre a fala da personagem e os seus sentimentos. Exemplo:
a) Ao receber a caixinha de ossos, uma das personagens fica entusiasmada. Como ela expressa esse entusiasmo? ("Mas que maravilha, é raro à beça esqueleto de anão.")
b) Em que momento podemos perceber que a personagem está apavorada? ("Vamos, vista isso, temos que sair antes que o anão fique pronto.")

Sugestões

Como desdobramento das atividades desenvolvidas com os alunos, pode-se solicitar que eles criem um texto em primeira pessoa, como se fossem as estudantes. Nesse texto, devem narrar suas impressões dos fatos.

Aula sobre "A Hora da Estrela", de Clarice Lispector

Objetivos

1) Estudar a última obra da importante escritora brasileira de maneira interpretativa. Saber por que ela é tão original e importante para a literatura.
2) Analisar as diferenças de veículo: o romance e o filme homônimo de Suzana Amaral.

Ponto de partida

Como ponto de partida, é claro, pede-se aos alunos que leiam a pequena obra de Clarice Lispector (às vezes chamada de novela), lembrando-lhes que é a última obra da escritora (publicada em setembro de 1977, poucos meses antes de ela morrer) e que ela tem uma peculiaridade: foi escrita aos fragmentos, simultaneamente a outra obra (que ficou póstuma: "Um Sopro de Vida").
A autora estava já doente e o intrigante, no processo criador de Clarice Lispector, é que ambas as obras têm narradores-autores que, dentro da obra, contam as histórias de suas personagens.Ou seja, Clarice é a escritora que inventou outros escritores - que por sua vez 'inventaram' suas personagens. O personagem-autor de "A Hora da Estrela" chama-se Rodrigo S. M., e o autor de "Um Sopro de Vida" não tem nome. A personagem do primeiro é Macabéa, e a do segundo é Ângela Pralini.
Por que Clarice teria escrito duas obras simultaneamente com personagens que são escritores (como ela própria) e que "escrevem" dentro da obra? Esse foco de interesse pode dirigir a atenção para a leitura, que, sem essa informação, pode ser enfadonha, já que Rodrigo só vai falar de sua personagem, Macabéa, bem adiante, depois de ter-se 'confessado' com o leitor por páginas e páginas... Clarice Lispector usou esse expediente narrativo somente nestas últimas obras, por quê?

Comentário

Para que o leitor venha a aproveitar a leitura de Macabéa - a pobre alagoana que não tinha "nada": era feia, raquítica, órfã, semi-analfabeta, solitária, subempregada, ignorante, virgem, tuberculosa... - sugere-se ao professor que leia os primeiros momentos em que Clarice (ops! Rodrigo) fala sobre ela: "Há os que têm. E há os que não têm. É muito simples: a moça não tinha. Não tinha o quê? É amenas isso mesmo: não tinha. Se der para me entenderem, está bem; se não, também está bem".
Saber que há Rodrigo e Macabea é ótimo para pensarmos no estudo do foco narrativo: narradores e personagens.

Estratégias e questões temáticas a discutir

1) A partir desse relacionamento entre o "autor" e sua personagem, o leitor verá como o autor a trata. Esses (mal)tratos serão importantes para o fim da obra, em que ela morrerá atropelada? Por que Rodrigo finge que não quer matá-la ao final da história, se ele mesmo diz que "ela nascera para o abraço da morte?" Afinal, Rodrigo traiu sua personagem ou lhe deu um final feliz, apesar do atropelamento?
2) As relações que Macabéa estabelece com outros personagens são passíveis de análise e observação: Olímpico, o namorado que a despreza ("Você só faz chover") e a troca por sua colega Glória; esta, a colega de trabalho, "loura de farmácia", que aceita o namorado da outra; o chefe suburbano, que a avisa que será despedida em breve; o médico, "que não gosta de pobre"; a cartomante, "Madama Carlota", cujos prognósticos nunca se cumprirão. Não serão todos mais bem adaptados à vida urbana (ou suburbana) que Macabéa? Esta, em sua ingenuidade teria sido usada por eles?
3) O atropelamento é a grande ironia da obra, não? Macabéa será atropelada após ouvir prognósticos fabulosamente positivos (e irrealizáveis), quando atravessa a rua "grávida de futuro" e morrerá diante de todos em sua 'hora de estrela'. Por que Rodrigo faz isso com sua personagem? Por que o prognóstico de atropelamento chegou antes da cliente da cartomante?
4) Se fechamos o livro após a leitura, veremos que a obra também trata de uma questão social: a adaptação do migrante nordestino ao trabalho e vida no sudeste do país. O que Macabéa representa, afinal, dentro dessa leitura?

A obra e o filme

Após debate sobre a leitura, vale assistir ao filme de Suzana Amaral (1986), "A Hora da Estrela" e discutir:
a) Nele, a cineasta abriu mão da existência de Rodrigo. Ou seja, ela optou por simplificar a obra, tirando dela um personagem-narrador-autor, para narrar apenas a história da moça alagoana. A pergunta é : por que Amaral teria optado por essa estratégia?
b) Outra boa questão é discutir por que Amaral deu à morte de Macabéa um final glamouroso, que a obra literária não tem?
c) Ao professor, sugere-se discutir com os alunos que não é o fato de se ter mexido na estrutura da obra literária que faz do filme algo pior ou melhor que o livro: deve-se saber que é apenas uma opção interpretativa da autora do filme; e interpretar é nosso papel de inteligência diante de livros ou filmes...

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

O sertão e a literatura - Ensino Médio - Memória e Cultura

Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula
Os alunos irão aprender como o sertão foi representado na literatura brasileira, conhecendo os principais autores que trataram desta temática, e suas principais obras.
Duração das atividades
Sete aulas de 50 minutos.
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno
O professor deverá apresentar o contexto político e econômico dos períodos correspondentes à publicação das obras trabalhadas nas aulas.
Estratégias e recursos da aula
Introdução
A literatura brasileira, por vezes, ocupou-se de temáticas sociais e políticas; a esta tendência literária se convencionou chamar literatura social ou literatura engajada. Dos muitos temas de que ela tratou, nós nos deteremos aqui ao do sertão, do sertanejo, seus hábitos, costumes e sua vida. Neste ciclo de aulas, conheceremos alguns momentos dessa literatura social, alguns de seus autores e de suas principais obras.

Os Sertões  Os Sertões, obra de Euclides da Cunha, de 1902.
http://lemoseuclides.blogspot.com/

Cacau    Cacau, obra de Jorge Amado, de 1933.
http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=12586

Sagarana Sagarana, obra de Guimarães Rosa, de 1946.
http://sublinha.blogspot.com/2010/07/sagarana-de-joao-guimaraes-rosa.html
Desenvolvimento
Primeira aula
Esta primeira aula deverá ser uma grande roda de discussão, onde o professor iniciará uma reflexão sobre a função social da literatura e sua função de fonte histórica. É preciso que os alunos compreendam que as obras literárias, mais que entretenimento, diziam sobre sua época; no caso da temática sertaneja, essas obras se transformaram em verdadeiros veículos de denúncia social.
Cabe também, nessa discussão, uma rememoração dos movimentos literários regionalistas que tiveram o sertão como temática preferencial, como os sertanistas do século XIX, a literatura do Nordeste, da década de 1930, e a literatura do oeste, ou sertanismo goiano-mineiro, da década de 1950.
Para auxiliar o trabalho da roda de discussão, sugerimos a leitura coletiva dos seguintes textos:
- “Literatura engajada: realidade ou ilusão”, de Gizele Cristina Carneiro (link http://web03.unicentro.br/pet/?s=publicacoes/ , acesso em: 28 abr. 2011);
- “Regionalismo: literatura das peculiaridades do Brasil”, de Antonio Carlos Olivieri (link http://educacao.uol.com.br/literatura/ult1706u51.jhtm , acesso em: 28 abr. 2011).

Segunda e terceira aulas
Na segunda e na terceira aulas, os alunos terão contato com algumas obras de temática sertaneja.  A dinâmica da aula consiste na formação de cinco grupos que deverão ler trechos de algumas obras selecionadas.
Para facilitar o acesso de todos os alunos aos textos, utilizaremos obras disponíveis na Internet; contudo, se a escola dispuser de tais obras em sua biblioteca, melhor será. Utilizaremos ferramentas eletrônicas como Literatura Digital: Biblioteca de Literaturas de Língua Portuguesa, site que disponibiliza textos (na íntegra ou trechos) de um sem-número de autores (links acessados em: 28 abr. 2011). Sitehttp://www.literaturabrasileira.ufsc.br/
Temas dos grupos:
- Grupo 1: O sertanejo, de José de Alencar  (Parte 1), site: http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=midias&id=140766
- Grupo 2: Os sertões, de Euclides da Cunha (livro completo), site: http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=midias&id=141605
- Grupo 3: Cacau, de Jorge Amado (livro completo), site: http://pt.scribd.com/doc/7017499/Jorge-Amado-CACAU
- Grupo 4: Sagarana, de  João Guimarães Rosa (livro completo), site: http://pt.scribd.com/doc/7017412/Guimaraes-Rosa-SAGARANA
- Grupo 5: Tocaia Grande, de Jorge Amado (para download, livro completo), sitehttp://www.livrosgratis.net/download/1608/tocaia-grande-jorge-amado.html.
Durante estas duas aulas, o professor deverá prestar auxílio aos alunos, esclarecendo possíveis dúvidas.

Quarta aula
A partir da leitura dessas obras, os alunos deverão organizar uma apresentação para o restante da turma, a ser realizada na quinta aula. Os alunos deverão utilizar esta aula e o espaço da escola para preparar a apresentacão. Esta poderá ser feita por meio de performances teatrais, vídeos, painéis com foto montagens ou cartazes.  Para esta apresentação, os alunos deverão atentar para: o gênero literário em questão; a determinação do tempo e do espaço narrativo; a identificação do narrador; a caracterização física e psicológica dos personagens; o tipo de paisagem e de personagens descritos; etc. Os alunos também poderão realizar, no laboratório de informática, uma pesquisa biográfica sobre os autores das obras.
Sugerimos os seguintes links para pesquisa biográfica dos autores (links acessados em: 06 julho. 2011):

José de Alencar:
http://educacao.uol.com.br/biografias/jose-de-alencar.jhtm
Euclides da Cunha
http://educacao.uol.com.br/biografias/euclides-da-cunha.jhtm
Jorge Amado
http://educacao.uol.com.br/biografias/jorge-amado.jhtm
Guimarães Rosa
http://educacao.uol.com.br/biografias/klick/0,5387,1936-biografia-9,00.jhtm

Quinta aula
Nesta aula, os grupos deverão apresentar seus livros e autores. O professor deverá avaliar a qualidade da leitura e pesquisa realizada pelos alunos; organização e criatividade da apresentação; capacidade do grupo em interagir e despertar a atenção do restante da sala; etc.
Sexta aula
Nesta aula, professores e alunos deverão discutir as apresentações da quarta aula, identificando as características específicas de cada obra, no que se refere à temática sertaneja e à modalidade e estratégia literária. Qual a característica de cada movimento literário? O que caracteriza a obra de cada autor? Qual a paisagem descrita em cada obra? Que imagem de sertão é desenhada na obra? E a relação com a história?
Com a discussão de questões como as propostas acima, o professor deverá concluir os debates do ciclo de aulas sobre “O sertão e a literatura”.
Sétima aula
Na sexta aula, o professor deverá instruir os alunos sobre a avaliação final deste ciclo de aulas.  Esta avaliação consiste na confecção de um vídeo pelos alunos, no qual os próprios interpretarão trechos de textos da literatura brasileira.
Nesta aula, os cinco grupos deverão reunir-se e selecionar trechos de obras de temática sertaneja (as obras podem ser diferentes das trabalhadas na segunda e na terceira aulas), que será o material para o vídeo. Os alunos deverão ainda discutir a confecção do vídeo, o local e o modo da gravação, os locutores e outros detalhes. A gravação do vídeo deverá ser realizada como atividade extraclasse.
 Os alunos deverão ter como base o Projeto “Mil Casmurros” (link http://www.milcasmurros.com.br/, acesso em: 28 abr. 2011), uma leitura coletiva de Machado de Assis. No site é possível selecionar trechos ou pessoas para escutar, o que é uma maneira inovadora de divulgar e incentivar a leitura da obra de um dos maiores autores da literatura brasileira.
Recursos Complementares
 “Literatura e experiência histórica em Sartre: o engajamento”, artigo de Franklin Leopoldo e Silva.
Site: http://www.espacoacademico.com.br/087/87silva_franklin.htm
Avaliação
As avaliações deste ciclo de aulas consistirão em:
- participação dos alunos na roda de discussão da primeira aula;
- apresentação dos grupos sobre as obras estudadas na segunda e na terceira aulas;
- qualidade do trabalho do vídeo produzido na avaliação final.
A avaliação final, como explicado na sexta aula, consiste na confecção de um vídeo pelos alunos, no qual os próprios interpretarão trechos de textos da literatura brasileira. O planejamento do vídeo será feito na sexta aula, mas sua confecção conta como atividade extra-classe.
O vídeo deverá ser avaliado pelo professor levando em conta a diversidade das obras escolhidas pelos alunos, organização e clareza do vídeo, qualidade das leituras realizadas, dentre outros.
Sugerimos que este vídeo seja disponibilizado no site da escola e também no youtube (link http://www.youtube.com/?gl=BR&hl=pt, acesso em: 29 abr. 2011), para que possa ser acessado por diversos públicos - familiares dos alunos, amigos, até pessoas desconhecidas. Seguindo a lógica do projeto "Mil Casmurros", os vídeos produzidos pelos alunos deverão servir como meio de divulgação e incentivo para a leitura